segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Homenagem a Viçosa

Homenagem a Viçosa

JOÃO DE LIMA DE ALAGOAS

1

Eu quero ver a Viçosa
Mais bela e mais importante
A população sadia
Tomando refrigerante
Ouvindo som de viola
No bar Trovador Berrante

2

Eu quero ver a Viçosa
Com mais nitidez e brilhos
Ouvindo apitos sonoros
Do trem correndo nos trilhos
Como o pai que volta alegre
Para beijar os seus filhos

3

Eu quero ver a Viçosa
Sendo a cidade mais bela
Jesus olhando de cima
Como quem abre a janela
Da sua casa paterna
Para cantar dentro dela

4

Eu quero ver a Viçosa
Bonita igualmente à Lua
Como a mãe que vê o filho
Beijando na face sua
Onde o ódio se extingue
E o amor se perpetua

5

Eu quero ver a Viçosa
Bonita como a aurora
Onde o filho não precise
Deixar a mãe que adora
Pra sair banhado em pranto
Procurar emprego fora

6

Eu quero ver a Viçosa
Bonita como o luar
Onde o anjo do Senhor
Nunca deixe de mirar
A sua face divina
No santo espelho solar

7

Eu quero ver a Viçosa
Com mais alegria e festa
Os passarinhos alegres
Gorgeando na floresta
Os anjos do céu dizendo
A terra de Deus é esta

A chegada de Lampião do Inferno

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A chegada de Lampião no inferno
José Pacheco da Rocha

Um cabra de Lampião
Por nome Pilão Deitado
Que morreu numa trincheira
Em certo tempo passado
Agora pelo sertão
Anda correndo visão
Fazendo mal-assombrado

E quem foi quem trouxe a notícia
Que viu Lampião chegar
O inferno neste dia
Faltou pouco pra virar
Incendiou-se o mercado
Morreu tanto cão queimado
Que faz pena até contar

Morreu a mãe de Canguinha
O pai de Forrobodó
Três netos de Parafuso
Um cão chamado Cotó
Escapuliu Boca Insossa
E uma moleca nova
Quase queimava o totó

Morreram dez negros velhos
Que não trabalhavam mais
E um cão chamado Traz-cá
Vira-Volta e Capataz
Tromba Suja e Bigodeira
Um por nome de Goteira
Cunhado de satanás

Vamos tratar da chegada
Quando Lampião bateu
Um moleque ainda moço
No portão apareceu:
— Quem é você, cavalheiro?
— Moleque, eu sou cangaceiro
Lampião lhe respondeu

— Moleque, não! Sou vigia
E não sou seu pariceiro
E você aqui não entra
Sem dizer quem é primeiro
— Moleque, abra o portão
Saiba que sou Lampião
Assombro do mundo inteiro

Então esse tal vigia
Que trabalha no portão
Dá pisa que voa cinza
Não procura distinção
O negro escreveu não leu
A macaíba comeu
Lá não se usa perdão

O vigia disse assim:
— Fique fora que eu entro
Vou conversar com o chefe
No gabinete do centro
Por certo ele não lhe quer
Mas conforme o que disser
Eu levo o senhor pra dentro

Lampião: — Vá logo
Quem conversa perde hora
Vá depressa e volte já
Eu quero pouca demora
Se não me derem ingresso
Eu viro tudo asavesso
Toco fogo e vou embora

O vigia foi e disse
A satanás no salão:
— Saiba, vossa senhoria
Aí chegou Lampião
Dizendo que quer entrar
E eu vim lhe perguntar
Se dou-lhe o ingresso ou não

— Não senhor, satanás disse
Vá dizer que vá embora
Só me chega gente ruim
Eu ando muito caipora
Estou até com vontade
De botar mais da metade
Dos que têm aqui pra fora

Lampião é um bandido
Ladrão da honestidade
Só vem desmoralizar
A minha propriedade
E eu não vou procurar
Sarna para me coçar
Sem haver necessidade

Disse o vigia: — Patrão
A coisa vai arruinar
Eu sei que ele se dana
Quando não puder entrar
Satanás disse: — Isso é nada
Convide aí a negrada
E leve os que precisar

Leve três dúzias de negros
Entre homem e mulher
Vá na loja de ferragem
Tire as armas que quiser
É bom escrever também
Pra virem os negros que tem
Mais compadre Lucífer

E reuniu-se a negrada
Primeiro chegou Fuxico
Com um bacamarte velho
Gritando por Cão de Bico
Que trouxesse o pau da prensa
E fosse chamar Trangença
Na casa de Maçarico

E depois chegou Cambota
Endireitando o boné
Formigueiro e Trupizupe
E o crioulo Quelé
Chegou Benzeiro e Pacaia
Rabisca e Cordão de Saia
E foram chamar Bazé

Veio uma diaba moça
Com a calçola de meia
Puxou a vara da cerca
Dizendo: — A coisa está feia
Hoje o negócio se dana
E disse: — Eita baiana
Agora a ripa vadeia

E lá vai a tropa armada
Em direção do terreiro
Pistola, faca e facão
Clavinote e granadeiro
E um negro também vinha
Com a trempe da cozinha
E o pau de bater tempero

Quando Lampião deu fé
Da tropa negra encostada
Disse: — Só na Abissínia
Oh! Tropa preta danada
O chefe do batalhão
Gritou: — As armas na mão
Toca-lhe fogo, negrada!

Nessa voz ouviu-se tiros
Que só pipoca no caco
Lampião pulava tanto
Que parecia macaco
Tinha um negro nesse meio
Que durante o tiroteio
Brigou tomando tabaco

Acabou-se o tiroteio
Por falta de munição
Mas o cacete batia
Negro embolava no chão
Pau e pedra que pegavam
Era o que as mãos achavam
Sacudiam em Lampião

— Chega, traz um armamento
Assim gritava o vigia
Traz a pá de mexer doce
Lasca os ganchos de Caria
Traz o birro de Maçau
Corre vai buscar um pau
Na cerca da padaria

Lucífer mais satanás
Vieram olhar do terraço
Todos contra Lampião
De cacete, faca e braço
O comandante no grito
Dizia: — Briga bonito
Negrada, chega-lhe o aço

Lampião pode apanhar
Uma caveira de boi
Sacudiu na testa dum
Ele só fez dizer: — Oi!
Ainda correu dez braças
E caiu enchendo as calças
Mas eu não sei de que foi

Estava a luta travada
Já mais de hora fazia
A poeira cobria tudo
Negro embolava e gemia
Porém Lampião ferido
Ainda não tinha sido
Devido a sua energia

Lampião pegou um seixo
E o rebolou num cão
A pedrada arrebentou
A vidraça do oitão
Saiu um fogo azulado
Incendiou-se o mercado
E o armazém de algodão

Satanás com esse incêndio
Tocou um búzio chamando
Correram todos os negros
Os que estavam brigando
Lampião pegou olhar
Não viu mais com quem brigar
Também foi se retirando

Houve grande prejuízo
No inferno nesse dia
Queimou-se todo dinheiro
Que satanás possuía
Queimou-se o livro de pontos
Perderam seiscentos contos
Somente em mercadorias

Reclamava satanás:
— Horror maior não precisa
Os anos ruins de safra
E mais agora essa pisa
Se não houver bom inverno
Tão cedo aqui no inferno
Ninguém compra uma camisa

Leitores, vou terminar
Tratando de Lampião
Muito embora que não posso
Vos dar a resolução
No inferno não ficou
No céu também não chegou
Por certo está no sertão

Quem duvidar nessa história
Pensar que não foi assim
Querer zombar do meu sério
Não acreditando em mim
Vá comprar papel moderno
Escreva para o inferno
Mande saber de Caim.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

A cartilha do mundo é quem ensina

o poeta é quem canta em seu programa
muitas coisas que o povo não percebe
por que sapo tem leite e ninguém bebe
por que gia tem leite e ninguém mama
e no lugar que tem água,barro e lama
João de Barro faz casa sem cimento
não precisa alicerce,escoramento
não arreia,não cai e não inclina
A cartilha do mundo é quem ensina
O poeta a cantar com sentimento.



Geraldo Amâncio

domingo, 4 de setembro de 2011

PInto do Monteiro e João Furiba



Do livro de Zelito Nunes, “Pinto velho do Monteiro – um cantador sem parelhas”, apesar de o livro ser todo bom, tem trechos que achei bastante engraçado e que retratam o espírito puro e criativo do povo sertanejo encarar a vida mesma quando a situação não é das melhores. Uma dessas diz respeito a uma visita que o cantador João Furiba foi fazer ao poeta Pinto do Monteiro.
Pinto já se encontrava doente e sem enxergar quando Furiba chegou na porta de sua casa e, saudando o poeta, disse:

“Há tempo em que eu não vinha
nesta santa moradia
visitar o velho Pinto
Me traz tanta alegria
Que é mesmo que ter tirado
O bolão da loteria”

Pinto com muito bom humor, disse:

“Eu não imaginaria
que você chegasse agora
Com essa sua presença
Obtive uma melhora
Quer ver eu ficar bom mesmo
É quando você for embora”

Se quizer mais, compre o livro:
zelitonunes@gmail.com

Belo Poema de Pinto do Monteiro

Pinto do Monteiro – poema





Eu comparo esta vida
à curva da letra S:
tem uma ponta que sobe
tem outra ponta que desce
e a volta que dá no meio
nem todo mundo conhece

Esta palavra saudade
conheço desde criança
saudade de amor ausente
não é saudade (é lembrança)
saudade só é saudade
quando morre a esperança

Aonde eu chego, não vi
Mal que não desapareça
Raposa que não se esconda
Bravo que não me obedeça
Letrado que não me escute
Cantor que não endoideça

Cantar com quem canta pouco
é viajar numa pista
com um carro faltando freios
o chofer faltando a vista
e um doido gritando dentro
atola o pé motorista

Minha corda não se estica
não se tora nem se enverga
da terra pro firmamento
meu pensamento se alberga
em um lugar tão distante
que lente nenhuma enxerga

Eu vou fazer uma casa
na Serra da Carnaíba
a frente pra Pernambuco
as costas pra Paraíba
só pra não ver duas coisas:
Nem Sumé, nem João Furiba

Há vários dias que ando,
Com o satanás na corcunda:
Pois, hoje, almocei na casa
Duma negra tão imunda,
Que a prensa de espremer queijo
Era as bochechas da bunda!